O Diálogo da Alma: Uma Jornada para a Individuação

Desde que comecei a me interessar pela psique, minha mente se abriu como nunca. Hoje, após alguns anos nessa busca e apesar de estar habilitado para exercer a clínica psicanalítica, havia algo que parecia faltar na minha compreensão sobre o que Freud tão bem discorreu sobre a mente, como ninguém antes havia feito. Seu pioneirismo e sua audaciosa abordagem imprimiram em mim um sentimento de busca cada vez maior pelo entendimento da alma.

Então, nesta manhã, como faço regularmente, estava fazendo caminhada para atender recomendações médicas, visto que passei dos cinquenta anos. Estou na terceira idade e é necessário esse tipo de atenção. Mas o que quero falar é sobre a sensação ímpar que minha mente me proporcionou durante aquele exercício físico.

Para melhor compreensão, é importante eu contextualizar: ontem, antes de adormecer, estava lendo a obra de Jung sobre a natureza da psique humana. E a bem da verdade, não há nada de novo no texto do mestre Jung que eu já não tenha lido na minha formação freudiana como psicanalista, mas o que ocorreu foi intrigante.

Enquanto eu caminhava avançando para o final do percurso que faço diariamente, tive a nítida sensação de visualizar minhas pernas dando passos no sentido oposto, ou seja, à medida que eu avançava, aquela ilusão dava a entender que eu estava caminhando para trás. O mais curioso é que isso durou por vários minutos, até o momento em que me conscientizei de que se tratava de uma mensagem do meu inconsciente.

Em rápida análise, pensei que se tratasse da minha saúde física, pois à medida que eu fazia aquele esforço físico, minha saúde estava melhorando. Concluí que talvez significasse que eu estava cronologicamente voltando no tempo, me tornando mais jovem, ou algo assim. Foi como um passe de mágica; a partir dessa breve conclusão mental, a cena desapareceu. Na verdade, a palavra “adequada” desvaneceu; foi como sair de um nevoeiro.

Vale esclarecer que os conteúdos da mente inconsciente não são organizados como os da consciência, por exemplo se na mente consciente tudo tem seus devidos rótulos e indicações como se fosse uma bula de medicamento, no lado inconsciente é exatamente oposto, é uma linguagem desconhecida mas que afeta nosso humor e nossas escolhas com frequência e de maneira quase imperceptível, aliás tecnicamente, segunda teórica psicanalítica, se tratam de afetos e traumas reprimidos pelo nosso ego com meio de evitar sofrimentos, além disso, há um mundo no contido no inconsciente, não é sem razão que Freud usou a metáfora do iceberg para fazer alusão a magnitude em relação a mente consciente. Sendo essa, apenas a ponta do iceberg que vemos sobre a água. Então, dá para se ter uma ideia do quão vasto e desconhecido é seu conteúdo, uma verdadeira caixa de pandora.

Voltado a minha experiencia, foi a partir daquele dado momento, que pude sentir que essa experiência se assemelhava à transcendência da qual lia no livro de Jung na noite passada antes de pegar no sono. Concluí que essa questão da transcendência se dá quando a comunicação do inconsciente com o consciente torna-se real, isto é, perceptível, e que se tratava de uma mensagem do inconsciente de que me exercitar era algo bom e estava me devolvendo uma condição física anterior, de quando eu era mais jovem.

A partir daquele momento, minha mente viajou nos conteúdos que venho estudando, fazendo muitas conjecturas sobre como somos impactados pelas mensagens vindas do inconsciente, que geralmente nunca damos atenção, e com isso não realizamos a entrega ou liberação de algum afeto. Na verdade, o mais comum é reprimirmos certos pensamentos e insights como algo que deve ser evitado.

No meu caso, sempre fui sedentário e não gosto de praticar exercícios, e ultimamente, por recomendações médicas, frequento academia diariamente. Por fim, refleti sobre a importância de observar esses insights do inconsciente para caminhar rumo à individuação, que tão bem o Professor Jung descreveu.

A construção do eu completo, o self, perpassa pelos atos de percepção e pela integração das mensagens do inconsciente para o consciente. Quando você sente que está no caminho certo, nada tem a ver com regras morais ou convenções sociais, mas com a integração do seu inconsciente com seu consciente.

Se eu fosse fazer uma metáfora sobre o que tratei, poderia dizer que a alma humana é como uma moeda, sendo o inconsciente e o consciente suas duas faces, tendo na transcendência, isto é, na comunicação e compreensão, uma espécie de mão divina que joga a moeda. “Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses.”

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.